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domingo, 6 de novembro de 2011

AMÉLIA NÃO É MAIS AQUELA



E o Senhor Deus disse: ‘Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele. [...] Então, o Senhor Deus adormeceu o homem; e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma de suas costelas [...]. Da costela que retirara do homem, o Senhor Deus fez a mulher e conduziu-a ao homem” (Gen. 2, 18-21). E foi assim que tudo começou. O que se seguiu, todo mundo já sabe. A serpente tentou a mulher, a mulher tentou o homem e os dois, até hoje, estão tentando se entender.
Diz, ainda, a Bíblia que, por conta da gulodice de Eva, Deus sujeitou-a ao homem e assim foi por muitos e muitos e muitos anos. Até que, um dia...
Um dia, em algum momento do passado, uma mulher disse: opa! Chega, tá demais! Devem ter-lhe perguntado: tá demais o quê? Ao que ela respondeu: esse negócio de que só o homem tem regalias e, pra nós, mulheres, sobra o pesado, a banda podre! Chega disso de o homem ficar por cima! (ops!!) Mulheres do mundo, uni-vos.
Começava, assim, a Primeira Internacional essencialmente feminina. Levanta-se a bandeira em prol do fim da dominação do homem. E este, coitado, sem entender direito o que estava acontecendo, via uma pilha de sutiãs queimando em praça pública enquanto uma voz feminina decretava o fim da opressão. Mas opressão de que, do sutiã?, perguntava-se o transeunte distraído. Não era apenas uma revolta contra essa inocente peça do vestuário, era o primeiro passo em direção ao novo mundo, um mundo no qual a mulher queria ser parte atuante, e não apenas ficar na cozinha da história.
E o homem, o que ele achava de toda aquela história. Bom, o homem continuava tomando sua cervejinha gelada, torcendo pelo time do coração e paquerando a mulher do vizinho, a boazuda que morava ao lado. Até que um dia...
Um dia, o cara chegou a casa e encontrou um bilhete: fui ao cinema com duas amigas. Depois, vamos tomar um chopinho por aí. Como por aí?! Mulher de respeito não anda por aí tomando chopinho com as amigas! O que é que vão pensar? Nada, companheiro, ninguém vai pensar nada. É mais do que comum uma rodinha de mulheres em um bar, tomando sua cerveja com tira-gostos light ou diet (muitas delas preocupam-se com os gramas a mais, é o eterno feminino!).
E o menino? Cadê a babá? Tá de folga hoje. Compete a você, caro ex-machão, a insigne tarefa de trocar as fraldas do herdeiro, limpar-lhe o bumbum, o óleo Johnson está ali na cômoda, dar-lhe a sopinha, preparar a mamadeira para mais tarde, porque o seio materno só vai chegar, literalmente, depois das onze, vestir o pijaminha e botar o rebento para dormir. O quê? Esta rotina arrebenta-lhe os nervos? Pois espere mais um pouco, e vai chegar o dia em que a madame tem um convite para um chá de fraldas, com frequência exclusivamente feminina, e cabe-lhe a honrosa tarefa de dar banho no pimpolho, vesti-lo e levá-lo à festa de aniversário do coleguinha que completa a segunda primavera. E, em meio à barulhenta alegria da garotada, você resolve vingar-se do mundo e da querida companheira e enche a cara de cajuzinho.
O tempora, o mores!, diz você, lembrando os dias distantes em que você rogava pragas para o professor de latim. É isso mesmo, caro superpai. Ó tempos, ó costumes! Os tempos e os costumes são outros. Hoje, somos todos iguais. É a lei, está na Constituição. Não adianta reclamar. Elas ganharam poderes, superpoderes, e agora querem conquistar o mundo.
Mas, convenhamos, está bom assim. Divisão de tarefas, divisão de responsabilidade, divisão de sucessos e, às vezes, de derrotas. Consideremos que a intenção do Criador era a melhor possível. Afinal, elas ainda enfeitam os dias, perfumam o caminho por onde passam e, não poucas vezes, são bálsamos para olhos cansados. Lembre-se de que não há nada melhor que uma mulher para elevar espíritos deprimidos ou deprimir espíritos elevados.
Se ela demora a chegar, é porque o papo com as amigas está animado, o chopinho está gelado e a batatinha frita, uma delícia. O que é que você vai fazer? Ora, esqueça a televisão, abra a sua cervejinha, refestele-se no sofá, pegue um bom livro e relaxe. Amanhã é sábado, dia daquela pelada no clube. É a sua vez. Afinal, igualdade é isso.

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