José
Geraldo C. Trindade
Até
alguns anos atrás, a violência pouco nos assustava. Era o tempo em que as
pessoas sentavam-se na calçada para um papo com os vizinhos enquanto a molecada
corria rua acima e rua abaixo, brincando de pique-esconde, de bandeira ou de
queimado e pulando amarelinha. Saudosismo? Com certeza!
Nessa
época, a violência chegava pelo cinema, mas não dávamos crédito a ela. Afinal,
mocinhos, bandidos e índios não eram mais que ficção. E, contra todas as
expectativas, muitas vezes torcíamos pelos índios.
Depois,
a violência tornou-se mais requintada (se é que se pode usar este termo).
Vieram os “duros de matar”, as “máquinas mortíferas”, os ”desejos de matar” e
outros do mesmo jaez. Mas, de qualquer forma, são obras de ficção: Bruce
Willis, Danny Glover e Mel Gibson, e Charles Bronson não se machucavam, e nem
os bandidos eram mesmo bandidos.
Mas
os tempos mudaram e, além da violência fictícia a que permitimos acesso às
nossas casas pela televisão (e a assistimos tranquilamente comendo pipocas),
temos agora, graças à maravilha tecnológica das câmeras de vigilância, a
violência real, cruel, assassina, em cores e em preto-e-branco. Exagero? Não! E
não estou falando dos pontapés, socos e pauladas de brigas de torcida ou de gangues.
Quem não se lembra da mulher assassinada pelo ex-marido em um salão de beleza
em Belo Horizonte? A imagem da mulher foi encoberta (blurr, é o nome do efeito), mas percebia-se, claramente, o homem
apertando o gatilho seis ou sete vezes. E o ladrão que, ao tentar assaltar uma loja
(não lembro agora onde), foi morto bem no enquadramento da câmera com um tiro
no peito disparado por um policial que estava na loja? A imagem ficou no ar por
quase um minuto.
Hoje,
por acaso, ao passar diante da televisão vi – e outros milhares de brasileiros
também – a execução fria de uma mulher diante do filho de11 anos (também não
esperei para saber onde foi). A cena que está ficando clássica: dois homens em
uma moto e o da garupa dispara três ou quatro tiros na mulher que estava em um
carro parado, talvez esperando a volta do filho que acabara de atravessar a rua
e que viu o corpo da mãe cair no asfalto (ele abriu a porta do carro tentando,
por certo, socorrê-la). Tudo isso no programa Brasil Urgente, apresentado por J.L. Datena.
Nada
contra Datena e outros que nos brindam com a violência que anda solta por aí.
Mas será que precisamos ir tão longe? Será que a banalização da violência
tornou-a palatável ao ponto de ser-nos servida em casa com toda a crueldade que
a reveste?
Lembro-me
das últimas linhas da Meditação 17, do
poeta inglês John Donne: Não perguntes
por quem os sinos dobram, eles dobram por ti.
Dobram
por nós, pobres coitados, que vemos, a cada dia, morrer um pouco a esperança de
dias melhores, embora sonhemos que o Brasil
Urgente, do J.L.Datena, e assemelhados um dia saiam do ar por falta de
noticias.