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quinta-feira, 17 de maio de 2012

ATÉ QUANDO?



José Geraldo C. Trindade

Até alguns anos atrás, a violência pouco nos assustava. Era o tempo em que as pessoas sentavam-se na calçada para um papo com os vizinhos enquanto a molecada corria rua acima e rua abaixo, brincando de pique-esconde, de bandeira ou de queimado e pulando amarelinha. Saudosismo? Com certeza!
Nessa época, a violência chegava pelo cinema, mas não dávamos crédito a ela. Afinal, mocinhos, bandidos e índios não eram mais que ficção. E, contra todas as expectativas, muitas vezes torcíamos pelos índios.
Depois, a violência tornou-se mais requintada (se é que se pode usar este termo). Vieram os “duros de matar”, as “máquinas mortíferas”, os ”desejos de matar” e outros do mesmo jaez. Mas, de qualquer forma, são obras de ficção: Bruce Willis, Danny Glover e Mel Gibson, e Charles Bronson não se machucavam, e nem os bandidos eram mesmo bandidos.
Mas os tempos mudaram e, além da violência fictícia a que permitimos acesso às nossas casas pela televisão (e a assistimos tranquilamente comendo pipocas), temos agora, graças à maravilha tecnológica das câmeras de vigilância, a violência real, cruel, assassina, em cores e em preto-e-branco. Exagero? Não! E não estou falando dos pontapés, socos e pauladas de brigas de torcida ou de gangues. Quem não se lembra da mulher assassinada pelo ex-marido em um salão de beleza em Belo Horizonte? A imagem da mulher foi encoberta (blurr, é o nome do efeito), mas percebia-se, claramente, o homem apertando o gatilho seis ou sete vezes. E o ladrão que, ao tentar assaltar uma loja (não lembro agora onde), foi morto bem no enquadramento da câmera com um tiro no peito disparado por um policial que estava na loja? A imagem ficou no ar por quase um minuto.
Hoje, por acaso, ao passar diante da televisão vi – e outros milhares de brasileiros também – a execução fria de uma mulher diante do filho de11 anos (também não esperei para saber onde foi). A cena que está ficando clássica: dois homens em uma moto e o da garupa dispara três ou quatro tiros na mulher que estava em um carro parado, talvez esperando a volta do filho que acabara de atravessar a rua e que viu o corpo da mãe cair no asfalto (ele abriu a porta do carro tentando, por certo, socorrê-la). Tudo isso no programa Brasil Urgente, apresentado por J.L. Datena.
Nada contra Datena e outros que nos brindam com a violência que anda solta por aí. Mas será que precisamos ir tão longe? Será que a banalização da violência tornou-a palatável ao ponto de ser-nos servida em casa com toda a crueldade que a reveste?
Lembro-me das últimas linhas da Meditação 17, do poeta inglês John Donne: Não perguntes por quem os sinos dobram, eles dobram por ti.
Dobram por nós, pobres coitados, que vemos, a cada dia, morrer um pouco a esperança de dias melhores, embora sonhemos que o Brasil Urgente, do J.L.Datena, e assemelhados um dia saiam do ar por falta de noticias.