Creio que já ouviram falar no autor bissexto. Aquele que, tal como os cometas, aparece com uma regularidade que pode ir de um ano, meu caso, há séculos. Mas o importante é voltar e, para quem tiver tempo, paciência e disposição, prometo comparecer a este espaço de reflexão uma vez por semana, aos sábados, um dia tão bom como qualquer outro para reflexões das mais diversas naturezas. Assim, espero ser merecedor de sua atenção e de seus comentários.
ENCONTREI,
HÁ ALGUM TEMPO, uma frase de Affonso Romano de Santana que bem se aplica ao
espírito humano e, em especial, aos tempos em que vivemos: “a tarefa do homem é
refazer-se a partir de suas ruínas”. (In A
mulher madura. Rio de Janeiro: Rocco, 1987). Nada mais claro, trágico e, ao
mesmo tempo, beirando a impossibilidade. E a palavra “ruínas” parece dar um
caráter sinistro ao que é dito. Afinal, nenhum de nós contempla a possibilidade
de nos vermos em situação de desastre. O homem e suas ruínas, o homem e suas
derrotas, o homem e seus fracassos, são condições que assustam muitos de nós.
Mas a fênix renasce das cinzas, e o homem pode renascer também. O problema é
que, hoje, muitos de nós valorizamos aspectos cuja falta muito nos afeta. É o
velhíssimo e batido lugar comum: valorizamos o ter e não o ser. Eis a raiz do
problema. É o ter, ou melhor, a falta dele, o não ter, que pode levar o homem à
ruína. A sociedade em que vivemos, e tomando-a em dimensão global, corre em
busca da realização pessoal em níveis materialistas: o status econômico-financeiro, resultado de um bom emprego que
permite adquirir casas luxuosas, carros caríssimos, viagens constantes ao
exterior, etc. Obviamente que é uma atitude absolutamente hipócrita dizer que
tudo isso é bobagem (lembremo-nos: quem desdenha, quer comprar). Claro que nada
isso é intrinsecamente ruim, e o valor do que se tem está na maneira como o
espaço que o desfrutar de tudo isso ocupa na vida do possuidor. Mas, e se a
roda da fortuna inverter o sentido do giro? E se tudo acabar? Se, um dia, o que
se deitou milionário acordar apenas com a roupa do corpo? É exatamente nesse
momento que a visão da ruína porá a prova a capacidade de reagir aos
infortúnios, de superar o choque e recomeçar, ou, apenas, desistir e deixar-se derrotar.
Há muitos exemplos de ruínas desse tipo. É nessa hora que se faz necessária a
força do ser, ou o que sobrou dela, para que o indivíduo reúna seus pedaços,
encare a derrota, o fracasso, o insucesso, tire deles todas as lições possíveis
e refaça-se a partir do que restou, e o que restou é, simplesmente, ele mesmo.
Nessa hora, olhar-se no espelho e dizer “eu sou” (esquecendo o eu-não-tenho)
pode ser o caminho para o homem-fênix renascer das cinzas e das ruínas.
Espero que você escreva com mais assiduidade e que seus leitores aumentem a cada dia pois precisamos de leituras como a sua; simples, tranquila, de fácil compreensão e recheada de cultura e sabedoria.Parabéns!
ResponderExcluirSeja bem-vindo outra vez! Sabe que sou sua maior fã, aguardarei semanalmente, e ansiosamente, seus textos e reflexões. Abraços.
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